quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Ensaio para uma teoria do Brasil

"Não me parece que no futuro cultural do Brasil a filosofia, tal como a entendemos até hoje, venha a ter uma grande importância, possivelmente porque há uma íntima contradição entre os seus objetivos e os seus métodos; de fato não se pode fazer filosofia como tanta vez se tem tentado, com o resultado de se produzir apenas literatura e da pior, sem métodos rigorosamente discursivos, em que sempre intervém como peça fundamental a distinta existência dum sujeito e dum objeto; mas a meta última de um verdadeiro impulso filosófico, como doutrina de compreensão ou doutrina de salvação, é a de se atingir um estado em que se apresente uma última realidade não dicotômica na qual nos incluamos, ou ela nos inclui a nós; por outras palavras, procuramos um sujeito ou pelo menos um ser em que se fundam sujeito e objeto, o que significa que há um ponto além do qual é impossível avançar em filosofia por métodos filosóficos; e aqui aponta, por um lado, o misticismo, por outro a filosofia apenas vivida, não sistematizada, que tem sido característica da nossa gente comum. (...)"

Agostinho da Silva
Espiral, Ano III, n.os 11-12, Lisboa, 1966

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