sábado, 9 de março de 2013

Consciência infeliz

"O sebastianismo parte realmente da consciência infeliz da realidade portuguesa, em dado momento histórico, para apostar na esperança na regeneração através de um salvador pessoal, de um chefe carismático e pessoal. Tal «consciência feliz» é a primeira e a mais clara cifra de Os Lusíadas. Para o poeta (em expressão de uma eloquência desgarradora), a pátria «está metida/ No gosto da cobiça e da rudeza/ Duma austera, apagada e vil tristeza».
Os críticos interpretam, em geral, este passo, de uma forma por demais simplista. Estariam decadentes as velhas virtudes morais; os Portugueses ter-se-iam tornado corruptos e ambiciosos; a desagregação em marcha seria causada por um abaixamento do carácter e do ânimo.
Mas não nos podemos esquecer (...) a sensação de desenraizamento, de perda de identidade e de distanciamento em relação a toda uma continuidade histórica, que se ressentiu como tendo sido traída pelo italianismo, pelo castelhanismo e pelo contra-reformismo dogmático de D. João III. (...)"

António Quadros
Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista (1982) pp. 40-41

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