quinta-feira, 29 de novembro de 2012

E se pulássemos?

Sampaio Bruno

"E se pulássemos, caro amigo? Sossegue; coisa pouca. De ocidente a oriente; de este a oeste, como quem dissera de norte a sul, de polo a polo, de nadir a zenit. Mas, em espírito, entende-se. Outramente não o consentem nem a majestade da sua pança nem o respeito pela assistência, que nos contempla, escarninha. Mas é que, havendo-lhe falado do novelista espanhol Galdós, cuido que por um processo natural me acudiu ao espírito o nome do romancista russo Dostoiewsky (...) Qual o motivo desta evocação do russo? Que afinidades ao ibero prendem o salvo? Pensando nisto, après coup, julgo que foi a vibração actual de uma releitura a que volvi com íntimo sobressalto. É um absurdo de talento que pertence ao livro [«Esfinge e Realidade» de Benito Pérez Galdós], que excede o poder da atenção, direi de compreensividade, das turbas aglutinadas em banquetes de espectáculo. (...) Composição estranha! Agita-a um bafo morno de loucura raciocionante."

Sampaio Bruno
Notas do Exílio, (1893), pp.45-48

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