quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tertúlia em casa de Adolfo Casais Monteiro

Delfim Santos

"(...) ao contrário de um simples serão de cavaqueio, o formato da tertúlia incluía então o revezar dos participantes no tratamento de um tema a ser debatido por todos os comensais: Casais [Monteiro], em postal a Delfim [Santos] de 22.11.42, informa que não tivera tempo para «preparar a perlenga» prevista para o dia seguinte, pedindo escusa da falta e solicitando mora de uma semana. E o mesmo Delfim, precisamente sobre uma sessão que iria registar para a posteridade e que aqui nos ocupará, esclarece que naquela noite «era Álvaro [Ribeiro] que pertencia fazer um pequeno relato de um dos livros de Leonardo [Coimbra], a que se seguiria discussão esclarecedora». Foi sobre um desses simpósios filosóficos mais formais, que pela noite se prolongavam após a ceia em casa do poeta seu condiscípulo, que Delfim Santos escreveu um relato à clef que agora remetia a Casais naquela carta, ocultando sob pseudónimo, como era corrente fazer-se, os nomes reais dos intervenientes: Álvaro Ribeiro se tornaria 'Alberto'; Sant'Anna Dionísio seria 'Rodrigo'; José Marinho manteria o seu nome próprio; Eudoro de Sousa se encobriria sob 'Ernesto'; Adolfo Casais Monteiro velar-se-ia em 'António' e por fim o próprio Delfim Santos se autonomeava 'Martinho', invocando o magistério haurido nas obras de Martin Heidegger. Expediente destinado apenas a leitores menos avisados pois os nomes apresentavam chaves de fácil leitura para os que conheciam este círculo filosófico..."

Filipe Delfim Santos
em "Um colóquio agora mais útil", 
Revista Nova Águia, nº 8, pp 39-40.

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