quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Fernando Pessoa, Poeta, Profeta e Alquimista do Verbo


"[...] O Primeiro Fausto deveria ordenar-se segundo quatro grandes temas cujos títulos são sintomáticos: O mistério do mundo; O horror de conhecer; A falência do prazer e do amor; O temor da morte. Mistério, horror, falência, temor...

Mas, se uma parte considerável da sua lírica ortónima, em contraponto com o radicalismo daquela tentativa dramática, nos aparece de facto como profundamente ensimesmada, registo de uma desoladora solidão individual, documento de uma tocante sentimentalidade frustrada, projecção de uma incerteza angustiada, às vezes angustiada quanto à vida de relação e até à vida de pensamento, contudo a nota mais forte da obra que conseguiu erguer e nos legou é dinâmica, interventora, frequentemente polémica, criacionista.

Assumir na poesia a cisão dilacerante com que se encontrou ao tomar consciência do seu Si conflitual e praticar uma constante intra-análise psíquica, eis o que o libertou para a exigência de uma univocidade por assim dizer escatológica, para a procura de uma identidade ética e sublimatória, para a entrega a uma obediência supra-egolátrica ou supranarcísica, que nele foram aliás sempre problemáticas e que constituíram a longa iniciação da sua vida." 

António Quadros, "Fernando Pessoa, Poeta, Profeta e Alquimista do Verbo" em Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil, Revista Comunidades de Língua Portuguesa (1985), p. 28.

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