quarta-feira, 24 de março de 2010

O «Eros e Psique» de Pessoa, proposta de uma hermenêutica

"[...] A Princesa dorme sempre e sonha; sonha com o Príncipe ou Eros que a virá libertar. Mas, dentro do sonho, o Príncipe descobre que não é outra coisa senão a própria Princesa, e, portanto, que ele próprio não tem realidade, sendo ilusórias as provas vencidas. Adormecida ou inconsciente, a Princesa ou a Psique projectou-se para um caminho iniciático que a levou à descoberta da sua solitude essencial; o Príncipe ou Eros não representava afinal outra coisa do que o desejo vão de um outro que não existe. E daí, porque o outro não tem realidade, porque é unicamente uma emanação do sonho ou do pesadelo, torna-se-lhe um fantasma. [...] O Príncipe e a Princesa, Eros ou Psique, brevemente se separam, mas para uma iniciação vital, cujo termo foi o regresso à casa do eu, foi o reencontro e a fusão última e definitiva do que devém e se projecta com o que é e está. Agora, o Neófito ou o Inciado está pronto para aceitar totalmente o ascetismo, a santidade e o heroismo de uma missão de inteiro compromisso, sem partilhas, sem distracções, sem divisões, no voto de castidade e de privação dos antigos cavaleiros. [...]"

António Quadros, Revista Persona, nº 4, 1981, pp. 37-42

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